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Em seu livro, Ciência e Estado, Regina Lúcia de Moraes Morel aborda o papel da ciência na sociedade, sobretudo a brasileira a partir dos anos de 1950. Porem é possível perceber em seu texto, escrito no final da década de 70, mas que mesmo assim continua atual devido a abordagem crítica à institucionalização da ciência, que ele não se limita só as questões brasileiras, podendo, assim, ser usado como fonte de discussão em diversas vertentes e espaços na história da ciência.

Um bom exemplo dessa possibilidade de uma discussão mais abrangente é a questão de que ciência e cientista vão deixar de ser vistos como entidades isoladas, autônomas e independentes da sociedade. “A visão de ciência como arte, como um processo regido exclusivamente pelas leis da criatividade, portanto leis extra societárias perde assim sua ênfase, cedendo terreno a uma interpretação cada vez mais sociológica do que seria a produção do saber”.¹

O que a autora defende no seu texto é que a produção científica não está isenta dos reflexos da sociedade ao seu redor. Nessa perspectiva, o que podemos dizer sobre a eugenia? Teria sido ela um produto científico criado a partir dos reflexos da sociedade de sua época?

Segundo a historiadora, Pietra Diwan, em seu artigo para a revista História Viva, sim. A Inglaterra do século XIX sofria com as transformações da segunda fase da Revolução Industrial na vida social, onde o “medo burguês da multidão nascente, aliado ao triunfo do discurso científico, encontra na biologia um meio de pôr ordem no aparente caos social: reurbanização, disciplina e políticas de higiene pública deveriam ser aplicadas com a finalidade de prevenir a degradação física dos trabalhadores para evitar prejuízos na economia.” ² Ainda segundo o artigo, esse cenário motivou o cientista inglês, Francis Galton a criar sua nova ciência, que tinha como objetivo o aperfeiçoamento da raça humana por meio da união de humanos que, aos olhos dessa ciência, eram bem dotados, fazendo que com que as futuras gerações sejam, também, bem dotadas. Essa produção científica foi batizada de Eugenia.

Esse artigo da historiadora, Pietra Diwan corrobora com a discussão promovida por Morel em seu livro de que a produção científica não é fruto, unicamente, da criatividade do cientista, mas sim do reflexo dos acontecimentos sociais ao seu redor.

Posteriormente, a eugenia colaborou com o discurso nazista de Adolf Hitler de superioridade da raça e, por fim, de limpeza racial, promovida pelo regime nacional socialista no final dos anos de 1930. Essa ciência, por sua vez, ditava os padrões de beleza, força e superioridade racial e que fora documentado nos filmes de Leni Riefenstahl.

 

1 MOREL, Regina L. M. Ciência e Estado: A política científica no Brasil. Editora TAQ. São Paulo, 1979, p. XV

2 DIWAN, Pietra. Eugenia, a biologia como farsa. História Viva. <http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/eugenia_a_biologia_como_farsa.html> Acessado em 28 de julho de 2013, às 13:54.

Ciência e Estado

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